domingo, 17 de fevereiro de 2013

Tenho 1 Parafuso a menos?..Desculpa!..tenho é 2 a mais. -(2/3)



Era noite de carnaval

Todos saíram porque ao longe havia festa.

Eu, deitado com dores ainda acordado, ouvi um reboliço estranho à porta da vivenda. Eram talvez três horas da matina quando presenciei as silhuetas no escuro, da chegada de dois colegas de quarto. Regressados, carregavam "uma overdose vínica” qual deles o mais “pedrado”. Eram os vizinhos do lado direito e esquerdo da minha cama.
Eu, caladinho fingia dormir.


Já deitados, o Algarvio falava na secura que sentia na garganta, por tanto tocar saxofone. Precisava de beber algo para lubrificar a goela. A conversa deu-me vontade de rir.
Ao ouvir um deles sugerir que à falta de álcool se bebesse o frasco de aftershave, tive de interferir.

Acalmaram um pouco, mas o sossego foi de pouca dura.
O algarvio começou a pensar no sacrifício e na abstinência "sexualmente falando", que faziam para serem fiéis às namoradas e madrinhas de guerra que deixaram na metrópole.
Elas seriam fiéis? Se calhar até andavam metidas com o padre da freguesia.

O Camarada concordou. Rapidamente chegaram à conclusão que Elas não mereciam tal sacrifício. O melhor seria queimar as cartas e aerogramas que guardavam com tanto carinho e dedicação.
De novo interferi, mas não me ligaram nenhuma.

Já tinha reparado na preocupação e gosto, de “tanto um como o outro” classificar e guardar a  correspondência. O Algarvio principalmente, passava o tempo a ler e reler e meter elásticos para depois “bater” com o molho na mesa, para ficar tudo direitinho.

Sem poder fazer nada mandaram-me calar.
Em menos de nada rebentaram os elásticos, e fizeram no chão, um amontoado de cartas aos pés da minha cama.




Ao ver despejar o aftershave por cima, uma vez mais chamei a atenção para não fazerem aquilo, que se iam arrepender, mas debalde. Mandaram-me calar de novo.
Contrariado e com os braços “atados” não tive outro remédio.
 
Incrédulo, vi o Colega riscar um fósforo, e qual mágica,
instantâneamente” o Algarvio (agora lúcido..?!) saltou para cima da fogueira tentando desesperadamente apagar o fogo. Insultando o colega do piorio, por estar a pôr fogo nas suas ricas cartinhas, Eu "danado" só disse:
 “É bem feito! É pena não ter ardido tudo”.

Quase de seguida, vejo a mão do Algarvio descendo com o punhal direito ao meu peito. Só parou “por milagre” porque entrou (o único morador que não era Furriel) um cabo cripto, que lhe agarrou o braço mesmo a tempo.

+++
Se não sabes beber, bebe merda! Foi a minha resposta, quando na manhã do dia seguinte o Algarvio “ressacado” me perguntou qual era o meu problema, para Eu não lhe dar os bons dias.
Contei-lhe o que tinha acontecido, mas o marafado não acreditou.
Não se lembrava de nada.

Para o castigar, andei sem lhe falar “zangado” quase uma semana, depois fizemos as pazes e com um abraço, tornou a ser o Compincha de sempre, que junto com todos os outros, me tratavam da saúde.

         (não digo os nomes, mas os camaradas da 2506 e não só, entendem perfeitamente)


Quando saí do hospital, por imposição do médico, trouxe por precaução uma caixa de injecções que guardava num frigorífico.
Da família dos antibióticos, destinava-se “se necessário”, a aplicar no caso de uma infecção pouco "provável" dado o extremo cuidado que eu tinha.


Certo dia passando pela rapaziada, perguntaram-me quem era o Fulano que me procurava. Parecia “aflito”.
Eu desconhecia tal facto, e pelos vistos andávamos desencontrados.
Seriam notícias da Metrópole?.

Preocupado fui para casa, e finalmente à tardinha, apareceu a misteriosa pessoa.

Era afinal, um Alferes de Gago Coutinho que andava desesperado com a temível  Blenorragia – vulgo (esquentamento).
Não sei como é que soube, que Eu tinha e guardava injecções "pelos vistos" também ideais para tal cura, que na altura estavam esgotadas.

Ouvi com atenção  o seu desespero, e ofereci-lhe a caixa. 
Com a alegria, só não me beijou na boca.

Mais tarde quando contei aos Camaradas, fui criticado por ter dado a caixa inteira, dado que não sabíamos o dia de amanhã.

Como andei engessado tanto tempo “mexendo só os dedos da mão”, verifiquei como se previa, que tinha o movimento do braço limitado quando retiraram o gesso.

 O tempo ia passando e como não me faziam uma recuperação eficaz, (já tinha chamado a atenção disso ao médico por diversas vezes) exigi que me mandassem para a fisioterapia em Luanda. O médico riu, insinuando que Eu queria era passar umas férias na capital. Contestei mas depois concordou.

Uns  dias depois recebi ordem para embarcar.
Agradecido e despedindo-me da rapaziada, apresentei-me no aeroporto do Luso à hora marcada.
Juntei-me a um pequeno grupo com o mesmo destino. O sermos evacuados para Luanda.

Já com o cinto de segurança apertado, e a bordo de um avião com a lotação esgotada, fomos "convidados a desembarcar", para dar a vez a umas Irmãs que surgiram do nada, que muito atenciosamente nos agradeceram e pediam desculpas pelo incómodo.
Azar o nosso. Vamos de volta e fica para a próxima.
Apeados em terra no meio da pista, vimos em segundos as Freiras subirem aos céus, para ficarem mais perto de Deus.
 Continua...


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